terça-feira, 26 de outubro de 2010

Paranaprevidência: Oposição e governo trocam acusações

A Assembleia Legislativa aprovou ontem um requerimento do deputado Jocelito Canto (PTB) convidando o diretor-presidente da Paranaprevidência, Munir Karam, a comparecer ao Legislativo estadual e “prestar esclarecimentos relativos à situação financeira da instituição”. Ontem, o relatório do Tribunal de Contas do Estado (TC) apontando um passivo de R$ 3,2 bilhões na previdência estadual gerou acusações entre governo e oposição na Casa.

De acordo com Jocelito, na ida à Assembleia – que ainda não tem data para ocorrer –, Karam poderá se explicar a respeito do relatório do TC e prestar contas sobre a situação financeira da Paranaprevidência. “Ouvi-lo é o nosso papel como deputados. Assim, ele vai poder dizer o que é ou não verdade nisso tudo”, afirmou o petebista.
Para o líder da oposição, Élio Rusch (DEM), os problemas apontados pelo TC são preocupantes e “confirmam o que a bancada vinha dizendo há muito tempo”. “Existe um grande perigo de não haver fundo para pagar os servidores na ativa quando eles se aposentarem, daqui a 10 ou 15 anos”, criticou. “Esse pepino ficará para os próximos governos.”
Já o líder do governo, Caíto Quintana (PMDB), classificou o débito da previdência como “uma herança dos governos anteriores, nos quais a oposição de hoje era situação”. Segundo ele, o assunto vai ser discutido com a equipe de transição nomeada pelo governador eleito Beto Richa (PSDB). “É preciso um pouco mais de cuidado para falar sobre isso, porque estamos falando de déficits acumulados”, argumentou.

Pessuti pretende enviar à Assembleia projeto para pagar o que deve

O diretor-presidente da Parana previdência, Munir Karam, diz que um novo plano de custeio e a re modelagem do regime de financiamento do Fundo Previdenciário estão sendo estudadados pelo go vernador Orlando Pessuti. “Ele pre tende, ainda neste ano, enviar o projeto de lei com as alterações à Assembleia Legislativa”, diz Karam.

Ele não quis entrar em detalhes sobre o projeto, mas adiantou que a alíquota de contribuição de todos os servidores será uniformizada em 11% do salário – o que na prática vai reduzir a média de 11,54% que existe hoje (mas que pode representar aumento para alguns).


“Um esquema de amortização [pagamento] do passivo [dívida] de R$ 3,2 bilhões do governo estadual com a Paranaprevidência também consta do projeto”, assegura o presidente do fundo previdenciário. Ele diz ainda que o governo não pagou essa dívida porque a Para naprevidência não precisa, no momento, do dinheiro em espécie. “Esse montante, porém, vem sendo contabilizado para pagamento no futuro.”
Karam, porém, reluta em chamar o “passivo” de “dívida” porque, segundo ele, não há qualquer promissória que permita a execução do vencimento pela Parana previ dência.
A possibilidade de aplicar di nheiro do Fundo em ações e a cobrança de contribuição dos inativos, que hoje não sofrem descontos em seus benefícios, não constam do projeto de lei. “A cobrança de inativos não é algo de imediato. Além disso, é pequena, corresponde a cerca de 9% dos nossos contribuintes”, diz Karam. Quanto à aplicação em ações, Karam diz que é um negócio arriscado – embora especialistas orientem o contrário.
“Pela Norma 3.790 do Conselho Monetário Nacional, nós só podemos comprar cotas de fundos de ações e não ações em si. Essa operação tem um risco de 30% a 40%. Estamos estudando algumas regras para fazer isso de maneira mais segura e não arriscar o dinheiro do servidor”, diz ele. Karam sa lienta ainda que o Fundo tem ativos financeiros líquidos de R$ 5 bilhões, aplicados todos em títulos públicos federais – e que, com isso, a Paranaprevidência tem atingido sua meta de 13% de rendimento ao ano.
Beto Richa
Luiz Eduardo Sebastiani, secretário de Finanças de Curitiba e membro da equipe de transição do governador eleito Beto Richa (PSDB) especializado em contas públicas, disse ontem que não está a par da situação da Parana pre vidência e que ainda não há um plano de ação para o assunto pelo futuro governo.
“Na reunião da qual participamos [com o atual governo], não foram apresentados números. Aguardamos o início dos trabalhos com a equipe do governador Or lando Pessuti, no dia 3 de novembro, para traçar um diagnóstico e um plano de ação para a Parana previdência”.
Nas diretrizes do plano de go verno de Richa consta, porém, que a intenção é, primeiramente, cumprir com o que a legislação federal estipula. Assim sendo, medidas como a elevação da alíquota de contribuição de 10% para 11% e o início de cobrança dos inativos estariam dentro das possibilidades.

Fonte:

TC aponta rombo de R$ 3,2 bilhões na previdência

Governo do estado deve quantia bilionária à Paranaprevidência. Se a dívida não for quitada, pagamento das futuras aposentadorias dos servidores corre risco.



A Paranaprevidência, órgão do estado responsável por administrar e pagar as aposentadorias dos servidores estaduais e pensões dos dependentes deles, tem um rombo de R$ 3,2 bilhões causado pela falta de repasses do governo paranaense. Isso pode comprometer o pagamento dos benefícios no futuro (atualmente, ainda não há risco). Os dados e o alerta constam de um relatório divulgado ontem pela 1.ª Inspetoria de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado (TC). O rombo na Parana pre vidência é equivalente a 8% do déficit do INSS, que neste ano já chega a R$ 40,1 bilhões.
O déficit nas contas da Parana previdência, apurado até junho deste ano, refere-se ao Fundo Previ den ciário, que paga os benefícios dos servidores aposentados que tinham menos de 50 anos (ho mens) e menos de 45 anos (mulheres) em 1998, quando a lei que criou a Paranaprevidência foi sancionada. Os demais inativos recebem o pagamento por meio do Fundo Financeiro – também administrado pela Paranaprevi dên cia, mas que não está deficitário. O órgão não informou quantos servidores inativos e pensionistas são pagos por cada um dos fundos; apenas repassou o total de beneficiários: 96.596.
Auditoria
O relatório é resultado de uma auditoria realizada nas contas do fundo previdenciário estadual determinada, em agosto, pelo presidente do TC, Hermas Brandão – após a apreciação das contas do governo do estado referentes a 2009, que já mostravam problemas na Paranaprevidência.
De acordo com relatório divulgado ontem, quase um terço do déficit – de R$ 1,029 bilhão – foi causado por repasses monetários abaixo do devido pelo governo estadual à Paranaprevidência – num descumprimento do artigo 83 da Lei 12.398/1998, que rege o Fundo Previdenciário.
Entre maio de 1999 e abril de 2001 (na gestão do ex-governador Jaime Lerner), o repasse correspondeu a apenas 64% do montante devido. E, entre maio de 2001 e abril de 2003 (no fim da gestão Lerner e início da administração de Roberto Requião), os repasses devidos foram de apenas 83,3%.
Uma negociação entre o governo e o Fundo previa que, a partir de 2005, o estado deveria ter pago essa diferença em 276 parcelas. Mas, segundo o relatório do TC, nenhuma parcela foi quitada. Ainda de acordo com o documento, esse pagamento de atrasados “não obteve autorização legal [para ser efetivado], assim como inexiste ato administrativo que formalize o procedimento”.
Outros ativos
O restante do déficit – R$ 2,174 bilhões – vem sendo acumulado des de a criação do Fundo Previ denciário e da Paranaprevi dên cia, em 1999, e diz respeito ao repasse de outros ativos, que não dinheiro vivo – tais como créditos futuros, papéis com valor monetário ou imóveis, por exemplo.
O relatório do TC mostra que, entre maio de 1999 e abril de 2000, os repasses em dinheiro não foram integralmente atendidos. A legislação permite a possibilidade de que, havendo insuficiência de repasses em dinheiro, as transferências sejam feitas em outros ativos. Segundo o TC, no entanto, o governo do estado realizou essa operação uma única vez, em maio de 2000, com o repasse dos créditos referentes aos royalties de Itaipu. E nunca mais cobriu o restante que devia com qualquer outro ativo.
A inadimplência de R$ 3,2 bilhões do governo estadual resultou ainda em uma perda grande de rentabilidade para a Parana previdência, segundo o relatório. “Caso os repasses mensais tivessem sido integralmente realizados e os recursos aplicados a taxas equivalentes ao histórico de rentabilidade do Fundo – 310%, em média, entre janeiro de 2001 e junho de 2010 – as re ser vas para pagamento de aposentadorias e pensões teriam acréscimo de R$ 161,2 milhões”, diz um trecho do documento do TC. Ou seja, se a Paranaprevi dência tivesse recebido o dinheiro e feito aplicações financeiras, teria R$ 161,2 milhões adicionais hoje para pagar as aposentadorias e pensões.
O economista e analista de controle da 1.ª Inspetoria do TC, Marcelo Evandro Johnsson, alerta que a auditoria revela que os recursos da Paranaprevidência são insuficientes, no longo prazo, para cobrir os compromissos e manter o equilíbrio do plano de custeio atual. Ele não soube dizer até quando o Fundo aguentaria nessa situação, mas afirma que medidas para sanar o problema devem ser tomadas o quanto antes. “Não é uma dívida de curto prazo. Portanto, não há qualquer risco para o Fundo agora. Mas é algo que precisa ser pensado para o futuro.”
O relatório do TC traz algumas sugestões para sanar o déficit: o pagamento pelo governo do montante previsto em 2005; o compromisso de que a inadimplência não se repetirá; a revisão do plano de custeio (com mudanças como a cobrança de contribuições de inativos, que hoje não pagam); e a elaboração de um plano de pagamento referente às contribuições referentes aos outros ativos.


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1061267&tit=TC-aponta-rombo-de-R-32-bilhoes-na-previdencia